terça-feira, 27 de novembro de 2018

Paulo Freire ameaçado de expurgo


Divulgando de Instituto Paulo Freire
Paulo Freire ameaçado de expurgo
Somos uma organização não-governamental com 27 anos de existência, criada para continuar e reinventar o legado freiriano. Paulo Freire acompanhou de perto a sua constituição, participando da discussão do seu estatuto, da definição de seus princípios, de suas linhas de atuação e contribuindo com suas valiosas e esclarecedoras reflexões sobre os projetos em desenvolvimento. Abrigamos a biblioteca do educador brasileiro e grande parte de seu acervo, reconhecido pela Unesco como patrimônio documental da humanidade.
Mais de 5 mil pessoas já passaram pelo Centro de Referência Paulo Freire. Um quinto dessas pessoas são estrangeiros representantes de mais de 40 países, dentre eles: Inglaterra, Itália, Índia, Japão, China, Canadá e tantos outros. Este educador reconhecido internacionalmente por suas contribuições às ideias pedagógicas está, neste momento, ameaçado de ser expurgado da educação brasileira. Vivemos tempos de perplexidades sucessivas. Esta é mais uma delas.
Não é a primeira vez que suas ideias são ameaçadas. O autor de Pedagogia do oprimido, obra que, em 2018, completa 50 anos, foi preso e exilado no período da ditadura. Sua resposta ao cerceamento foi um convite ao diálogo e à coragem de lutar; frente à violência, ao silenciamento, a luta pelo direito à liberdade de expressão, ao pensamento crítico.
Paulo Freire sempre se opôs à doutrinação, à manipulação. Defendia o diálogo de saberes: o saber científico, o saber sensível, o saber técnico, tecnológico, o saber popular, sem discriminação, respeitando e valorizando a diversidade e os direitos humanos. Como um ser humano conectivo, esperançoso, jamais deixou de acreditar na capacidade da humanidade de criar “um mundo em que seja menos difícil amar”, como escreveu, no exílio, em 1968, no final de seu livro mais conhecido: Pedagogia do oprimido.
Alguns gostariam de retirar Paulo Freire das prateleiras das escolas, mesmo que sejam poucas as que ainda têm livros dele; outros ameaçam expurgar os livros didáticos, onde, porventura, se faz alguma menção a ele. Não vimos ninguém, até agora, propondo a queima de seus livros em praça pública. E esperamos que não chegue esse momento. Para isso, estamos vigilantes! Sabemos que suas ideias não agradam a todos. E isso é próprio da democracia, como espaço amplo, fecundo e generoso do debate de ideias, em que cada pessoa possa, com autonomia, dizer a sua palavra e construir a sua própria história.
Contestar Paulo Freire é, na verdade, contestar a própria democracia que ele defendia ao lado de outros grandes educadores do século XX, como John Dewey, Martin Buber, Jean Piaget e Maria Montessori, ao lado de brasileiros e brasileiras como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Cecília Meirelles e Rubem Alves, entre outros. Para todos e todas que desejam conhecer e viver uma pedagogia de inspiração humanista, sua obra é imprescindível e deveria estar em todas as escolas.
A liberdade é um princípio de toda educação e o ofício de ensinar, uma conquista da humanidade. Sem democracia não há aprendizagem. Intimidar professores é negar ao povo o direito à educação. A pedagogia dialógica defendida por Paulo Freire é considerada como uma referência de qualidade científica e reconhecida por intelectuais e universidades de todo o mundo.
As teorias de Paulo Freire cruzaram as fronteiras das disciplinas, das ciências, criando raízes nos mais variados solos, fortalecendo teorias e práticas educacionais, bem como auxiliando reflexões não só de educadores e educadoras, mas, também, de médicos, terapeutas, cientistas sociais, economistas, filósofos, antropólogos, psicólogos, artistas, juristas e profissionais de diversas outras áreas. Se elas tocaram corações e mentes e ressoaram em tantos lugares, pelos quatro cantos do mundo, é porque elas atendem a uma necessidade não só de construção de conhecimentos baseados em evidências e dados, mas também porque, despertam nas pessoas que entram em contato com elas, a capacidade de serem melhores, menos arrogantes, mais respeitosas, para viverem plenamente suas existências num mundo mais justo, produtivo e sustentável.
Por isso, o Instituto Paulo Freire manifesta-se, neste momento, em defesa do legado freiriano como parte da luta pela democracia e pela liberdade de ensinar e aprender, e convida todos e todas que se solidarizam com essa causa a se somar, a criar um grande movimento, a partir de seus próprios espaços, cada um com sua criatividade e suas condições, construindo uma teia solidária de resistência e luta por uma educação emancipadora, transformadora e democrática. Vamos juntos em defesa de Paulo Freire! “Amar é um ato de coragem”, como nos ensinou Paulo Freire. Mais amor e menos violência.
Escreva seu texto, faça sua charge, sua ilustração, sua música, seu poema, sua aula pública, seu documentário, seu vídeo, organize suas atividades, compartilhe conosco notícias do que vem sendo feito, pelo e-mail: comunicacao@paulofreire.org e acompanhe o blog Resistência e Luta pela Democracia. Vamos tecer esperança!
Conheça e saiba mais:
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INSTITUTO PAULO FREIRE DE EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS – IPF
Rua Cerro Corá, 550 - Alto da Lapa - São Paulo - SP - 05061-100 | Tel.: 55 11 3021-1168
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quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Cargos na Secretaria de Educação do DF serão ocupados com seleção

Divulgando de Metrópoles...


Cargos na Secretaria de Educação do DF serão ocupados com seleção
Novo secretário da pasta está firmando parcerias com entidades privadas e ONGs para profissionalizar gestão pública.
Priscilla Borges 21/11/2018 13:01 . atualizado em 21/11/2018 13:44
Os cargos estratégicos da Secretaria de Educação do Distrito Federal serão ocupados, a partir de 2019, por meio de seleção. O processo incluirá análise de perfil dos candidatos, testes de resiliência, integridade e competências, avaliação de experiência e formação. A Fundação Lemann, uma organização não governamental da área educacional, será a responsável por traçar a metodologia. Além disso, vai promover formação profissional continuada aos escolhidos para ocupar as vagas de subsecretários, coordenadores regionais, secretários adjuntos e assessores.
Segundo Rafael Parente, que assumirá a secretaria, várias parcerias com entidades sem fins lucrativos ou empresas dispostas a contribuir com o governo serão realizadas. O objetivo é profissionalizar os processos de gestão da pasta. “Para conseguir resultados rápidos, precisamos de uma equipe 100% profissional, comprometida e íntegra”, afirmou em entrevista exclusiva ao Metrópoles. Os diretores de escolas continuarão sendo eleitos.
Mais sobre o assunto
Além da Fundação Lemann, outras duas entidades já se mostraram dispostas a colaborar. Uma delas é a Falconi Brasil, experiente empresa de consultoria em gestão que ajudará a criar planejamentos estratégicos para a secretaria. A Falconi terá a tarefa de identificar as prioridades da área, otimizar processos, definir indicadores para medir resultados e sucessos. Parente pretende montar escritórios de projetos dentro da secretaria.
A outra, ainda em negociação, é a Vetor Brasil. Organização sem fins lucrativos, atua em parceria com governos estaduais e municipais para desenvolver profissionais. Eles devem ajudar na seleção da equipe que vai compor as subsecretarias da pasta. Os servidores interessados em ocupar os cargos poderão se inscrever para os processos seletivos assim que forem abertos. A secretaria divulgará as informações.
Sem contrapartida
As consultorias não serão remuneradas, de acordo com o secretário. “Estamos abertos a mais parcerias, mas é importante destacar que as entidades não receberão verbas do GDF na nossa gestão. Elas não poderão participar, inclusive, de qualquer licitação do governo”, garante.
Parente admite uma possível resistência à nova metodologia de escolha dos cargos estratégicos. Porém, acredita ter os argumentos necessários para convencer os mais céticos de que a “causa é nobre”. “O que queremos é uma educação melhor para todos. Minha principal meta é colocar o DF em primeiro lugar no Ideb em todas as etapas de ensino e a gente tem total condição para isso”, afirma.
O Ideb é o indicador do Ministério da Educação que avalia a qualidade do ensino público em todas as redes. Ele traça metas para cada etapa do ensino fundamental e para o ensino médio. Na última divulgação de resultados do indicador, em 2017, o Distrito Federal só atingiu a nota projetada para os anos iniciais do ensino fundamental. O pior desempenho foi no ensino médio, que ficou com índice de 3,4 (a meta era 4,4).
Para o novo secretário, o maior desafio será motivar, estimular e melhorar as condições de trabalho dos servidores da rede. Ele também defende mudanças na burocracia da pasta, que define como lenta e, muitas vezes, ineficiente. “Os funcionários são competentes e precisam de motivação, mas os processos burocráticos precisam ser mais inteligentes e profissionais, além de menos morosos”, destaca.
Ele replicará no DF parte do modelo de gestão que ajudou a implementar na Secretaria Municipal do Rio de Janeiro. Parente foi subsecretário de educação entre 2009 e 2013. “É uma mudança cultural e, por isso, muito desafiadora, mas o governador me pediu resultados rápidos, e a profissionalização da gestão é o caminho.”


Apesar da estratégia temos que conhecer e analisar melhor as parcerias.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O que nos falou o Secretário de Educação do próximo Governo do DF

Divulgando de Metrópoles...


Para onde deve caminhar a Educação do Distrito Federal?
18/11/2018 5:22 . atualizado em 19/11/2018 22:30
Uma sociedade não evolui sem investir em educação. Dela dependem os desenvolvimentos econômico, social e humano, o bem-estar, a qualidade de vida, a saúde, a segurança, etc. Os países mais ricos e sérios priorizam, realmente, a educação. Países em desenvolvimento acelerado, como Polônia, Vietnã, República Checa e Estônia conseguiram construir um pacto político e social pela educação. É disso que precisamos no Distrito Federal, e é essa a vontade do novo governo.
A rede distrital já tem uma série de vantagens em relação à média nacional, mas enfrenta enormes desafios. Temos o melhor quadro técnico, com a maior proporção de mestres e doutores, menores distâncias geográficas e remunerações superiores à média (o que não significa que não devamos ser mais ambiciosos).
Entretanto, precisamos melhorar muito a infraestrutura das escolas, as condições de trabalho, as políticas de formação continuada, de reconhecimento, de comunicação, de articulação e de transparência. É fundamental ampliar e qualificar os investimentos em diversas áreas. Devemos motivar os profissionais da educação e cuidar deles.
Mais sobre o assunto
Para enfrentar os desafios internos da rede e das escolas, não há outra saída senão a de contar com a seleção e o desenvolvimento profissional contínuo de técnicos altamente qualificados ocupando posições estratégicas. Nossos profissionais devem ser competentes, íntegros, comprometidos e motivados. Para isso, já começamos o planejamento de uma série de ações, como incluir a análise de currículo e de perfil na seleção de assessores, subsecretários e coordenadores regionais.
Nossos espaços escolares, nosso currículo, nossas metodologias e rotinas precisam passar por um processo de modernização. Nossas escolas serão espaços acolhedores, inspiradores e desafiadores. Os alunos não podem se sentir inseguros ou com medo. Precisam compreender a relevância do processo educacional e do conteúdo apresentado e, sobretudo, sentir que fazem parte de uma comunidade"
Os métodos de ensino devem se aproximar da forma como aprendemos hoje. Avanços tecnológicos que vêm impactando nossos hábitos e trabalhos serão utilizados. O acesso à internet de qualidade deve ser viabilizado. Novas descobertas das neurociências influenciarão nossas ações pedagógicas. Atividades que proporcionam o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para a vida serão incluídas nos planejamentos de aulas.
Estímulo aos professores
Os professores, em geral, são pessoas idealistas, que se sentem desestimulados e incapazes frente ao sistema. A carreira precisa ser atraente, com formações (iniciais e continuadas) que privilegiam a prática de forma efetiva e a constante melhoria, respeitando a singularidade de cada profissional.
O trabalho dos professores depende de materiais didáticos de qualidade e de metodologias mais atuais. Macrotendências mundiais na didática, como aprendizagem baseada em projetos, personalização e gamificação, serão conhecidas e praticadas, com infraestrutura adequada para sua utilização.
Além disso, sabemos que a comunidade escolar é constituída por outros atores e que a aprendizagem pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar. Diferenças na participação de familiares são perceptíveis antes mesmo da pré-escola, já que os anos iniciais são decisivos para o desenvolvimento do cérebro.
O número de palavras conhecidas por uma criança quando ela inicia sua vida escolar tem grande influência sobre seu sucesso acadêmico, uma vez que quanto mais sabemos, mais facilidade temos para aprender. Devemos aumentar a integração e melhorar a qualidade nas relações entre escola, família e bairro. Combateremos, com políticas públicas adequadas, a violência urbana, que contribui para a baixa aprendizagem.
Investimento em formação
Vamos investir no aumento da eficiência da gestão, em níveis micro e macro. Nossos diretores e coordenadores de escolas necessitam ter formação e ferramentas adequadas. As políticas educacionais devem ser calcadas em evidências científicas e referenciadas por tendências globais.
Precisamos melhorar a implementação e a avaliação dessas políticas, além da articulação com outras pastas, como cultura, esportes, saúde e assistência social. A burocracia deve ser inteligente e ágil. A descontinuidade de quadros profissionais, de políticas e de projetos só deve acontecer quando comprovadamente ineficientes.
Transformar uma rede de educação é uma tarefa extremamente complexa, que requer respeito, diálogo e planejamento para que tenhamos profissionais e alunos comprometidos e motivados. Apesar da quantidade e do tamanho dos desafios, que não devem ser subestimados, sabemos que essa é a mais importante de todas as causas e enxergamos essa oportunidade como uma missão.
Vamos, juntos, escolas, famílias e toda a sociedade fazer o que precisa ser feito para que possamos fazer a travessia da realidade que temos para a realidade que precisamos, queremos e merecemos.
*Rafael Parente – PhD em Educação pela NYU e futuro secretário de Educação do DF


Artigo do Secretário de Educação do próximo governo do Distrito federal na revista Metrópoles.
Me pareceu interessante à primeira vista pelos ‘assuntos’ abordados!

Meu amigo professor Evandir Pettenon do CEd 310 de Santa Maria-DF me enviou a imagem abaixo (que parece ser de um perfil do nosso futuro chefe) afirmando que o mesmo é progressista - ele, professor Evandir, já havia me dito antes que “esperava ele (o próximo secretário de educação) bem mais neoliberal”, pois algumas das suas ligações são de muito interesse de grupos neoliberais da iniciativa privada que, com algumas ressalvas, querem se adonar da educação pública brasileira - incluindo do DF – como o “Todos pela Educação”. Ah! Isso é uma avaliação pessoal, minha!
Ainda estou em dúvida se ele é progressista, anti Bolsonaro ou apenas mais um neoliberal adocicado que ‘se importa’ com algumas ‘causas sociais’. Pelo menos uma iniciativa que eu particularmente esperava da parte do próximo Secretário de Educação parece que vai acontecer: que ele convidasse o SINPRO-DF para um bate papo e, segundo uma agenda que me foi repassada, via WhatsApp, pela companheira e diretora do sindicato, professora Goretti, está agendada para o dia (26/11 Reunião com futuro Secretário de Educação (só comissão de negociação) às 9h;) e isto, a meu ver demonstra senão um compromisso verdadeiro ainda impossível de se comprovar (pois só vamos ver isto na prática), uma enorme boa vontade da parte do nosso futuro chefe.
E, afinal, o fato é que 'classificar' alguém - mesmo quando o conhecemos bem - é um processo extremamente contraditório e ainda é muito cedo para opiniões mais abalizadas...
Que ele seja bem vindo!
JKim #Lula LIVRE da Silva (professor do CEF 316 de Santa Maria-DF)


quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Previdência social | Por que ela é tão importante para você?

Divulgando de CUT Brasília...


Previdência social | Por que ela é tão importante para você?
nov 12, 2018
Para a maioria das pessoas, o tema previdência social é conhecido superficialmente ou até desconhecido. Esta não é uma matéria de ensino nas escolas, não é explorada em cursos de treinamento e tem uma linguagem ora ligada ao juridiquês, ora ao economês. Entretanto, a previdência social é uma política pública que não atinge apenas idosos que não trabalham mais. Ela também atende pessoas com doença, invalidez, que estejam desempregadas, quem trabalham por conta própria. E vai além: atinge também dependentes desses trabalhadores. Afinal, benefícios como auxílio-maternidade, seguro-desemprego, pensão por morte, Benefício de Prestação Continuada (BPC) são também custeados pela previdência social.
Definido pela Constituição Federal de 1988 como um direito social, a política pública foi pensada como uma forma de dar ao trabalhador e à sua família o amparo mínimo no caso de o indivíduo não conseguir se sustentar. E isso pode ocorrer por vários motivos, como doença, velhice, falecimento do trabalhador, invalidez, gravidez.
O caixa da previdência é feito de forma contributiva e obrigatória para os trabalhadores com carteira assinada. Ou seja, todos os meses, parte do salário deste trabalhador é recolhido pelo INSS, numa porcentagem que vai de 8% a 11%, dependendo do salário. Os trabalhadores autônomos e empresários também devem contribuir para o sistema. Servidores públicos possuem um sistema especial de previdência, assim como os professores. Quem não recebe renda também pode contribuir voluntariamente para a Previdência se assim optar.
Mas não é apenas o trabalhador que contribui com a previdência social. Ela é financiada de forma tripartite, ou seja, além do trabalhador, empregadores e toda a sociedade, por meio de verbas orçamentárias e contribuições sociais, também são responsáveis por sustentar uma das políticas públicas mais importantes para o Brasil.
Se é eficaz, para que uma reforma?
Economicamente, o sistema previdenciário tem se mostrado bastante relevante. De acordo com o livro “A Previdência Social e a economia dos municípios”, de Alvaro Solón, a maior fonte de renda de 70% municípios brasileiros é proveniente dos benefícios pagos pela previdência social. Os valores superam, inclusive, os repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), uma espécie de mesada transferida pelo Executivo, como previsto na Constituição. Em alguns casos, o valor dos benefícios previdenciários supera até mesmo a arrecadação total do município.
Quando se trata de sua cobertura social, a Previdência cumpre seu papel de protetora. De acordo com dados do Ministério da Fazenda, em 2016, o número de benefícios ativos ultrapassou 29 milhões. O balanço aponta também que a previdência social atende mais 27 milhões de pessoas, sendo 56% mulheres, um aumento de 3,43%, em relação ao ano anterior.
Porém, nos últimos tempos, o sistema previdenciário tem sido alvo de diversos ataques e, sob a falsa justificativa de déficit na previdência social, pode ser reformado ou até mesmo entregue à iniciativa privada.
Essa reestruturação, apresentada na PEC 287/2016, da forma como é proposta pelo governo de Temer (MDB) e reforçada presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), causaria um enorme prejuízo à sociedade, deixando de atender milhares de pessoas e perdendo seu caráter protetivo.
“Não podemos ignorar que, ao longo desses anos, a previdência social desempenhou um papel fundamental na proteção de milhares de trabalhadores, sejam eles ativos ou desempregados. A previdência tem sido um instrumento efetivo de combate à pobreza e de garantia de renda aos diversos segmentos sociais. Logo, qualquer mudança nesse sistema deve ser amplamente debatida com a sociedade e seus representantes”, avaliou o secretário-geral da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues.
A falácia do déficit
Mas, afinal, há ou não o tal falado rombo na previdência? A verdade é que o sistema de previdência social brasileiro é uma verdadeira caixa preta. Pouco ou nada se sabe sobre os recursos que entram e os que saem. De acordo com a CPI da Previdência, realizada em 2017, há inconsistência de dados e de informações anunciadas pelo Poder Executivo, que “desenham um futuro aterrorizante e totalmente inverossímil”, com o intuito de acabar com a previdência pública e criar um campo para atuação das empresas privadas.
“É importante destacar que a previdência social brasileira não é deficitária. Ela sofre com a conjunção de uma renitente má gestão por parte do governo, que, durante décadas: retirou dinheiro do sistema para utilização em projetos e interesses próprios e alheios ao escopo da previdência; protegeu empresas devedoras, aplicando uma série de programas de perdão de dívidas e mesmo ignorando a lei para que empresas devedoras continuassem a participar de programas de empréstimos e benefícios fiscais e creditícios; buscou a retirada de direitos dos trabalhadores vinculados à previdência unicamente na perspectiva de redução dos gastos públicos; entre outros”, resume o relator da CPI, senador Hélio José.
Segundo o relatório da CPI, as empresas privadas devem 450 bilhões de reais à previdência e, para piorar a situação, conforme a Procuradoria da Fazenda Nacional, somente 175 bilhões de reais correspondem a débitos recuperáveis.
Balcão de negócios
De acordo com o jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Antônio Augusto de Queiroz, o governo Bolsonaro enxerga a cruel reforma da Previdência de Temer “capenga”, mas “segue apoiando parte do texto como resposta ao mercado”. A ideia do novo governo, na verdade, seria, segundo Queiroz, tornar a reforma ainda prior: “privatizar a Previdência, tornando-a um grande negócio; instituindo um teto muito baixo e retirando do seu perfil seus pilares de proteção à sociedade”.
Uma das estratégias é desanimar os brasileiros com o aumento do tempo de contribuição (10 anos a mais pela proposta de Temer) e com idade de 65 anos para obter 76% do benefício. Assim, o contribuinte acaba indo para uma previdência privada. “Essa é a galinha dos ovos de ouro do mercado financeiro e dos políticos comprometidos com ele, como Temer e Bolsonaro. Basta analisar as relações entre o poder econômico e o poder político. Devemos atuar de maneira firme e permanente para que a PEC 287, da reforma da Previdência, não passe na Câmara”, destaca o secretário de Administração e Finanças da CUT Brasília, Julimar Roberto.
Fonte: CUT Brasília


 

sábado, 3 de novembro de 2018

Pra não dizer que não falei das flores




Música Pra não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré

A música "Pra não dizer que não falei das flores" foi escrita e cantada por Geraldo Vandré em 1968, conquistando o segundo lugar no Festival Internacional da Canção desse ano. O tema, também conhecido como "Caminhando", se tornou um dos maiores hinos da resistência ao sistema ditatorial militar que vigorava na época.
A composição foi censurada pelo regime e Vandré foi perseguido pela polícia militar, tendo que fugir do país e optar pelo exílio para evitar represálias.
Letra da música
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

Análise e interpretação
Com a sonoridade de um hino, o tema segue um esquema rimático simples (A-A-B-B, ou seja, o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro com o quarto e assim por diante). Utiliza também um registro de linguagem corrente, com uma letra fácil de memorizar e transmitir a outras pessoas.
Assim, parece fazer referência às canções que eram usadas em passeatas, protestos e manifestações contra o regime, que se espalhavam pelo país no ano de 1968. A música era, então, usada como um instrumento de combate, que pretendia divulgar, de forma direta e concisa, mensagens ideológicas e de revolta.

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

A primeira estrofe assinala isso, com os verbos "caminhando e cantando", que remetem diretamente para a imagem de uma passeata ou um protesto público. Lá, os cidadãos são "todos iguais", mesmo não existindo relação entre si ("braços dados ou não").

Referindo "escolas, ruas, campos, construções", Vandré pretendia demonstrar que pessoas de todos os extratos sociais e com diferentes ocupações e interesses estavam juntas e marchavam pela mesma causa. É evidente a necessidade de união que é convocada e a lembrança de que todos queriam a mesma coisa: liberdade.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

O refrão, repetido várias vezes ao longo da música, é um apelo à ação e à união. Geraldo fala diretamente com quem escuta a música, chamando para a luta: "Vem". Com o uso da primeira pessoa do plural (em "vamos embora"), imprime um aspeto coletivo à ação, lembrando que seguirão juntos no combate.
Ao afirmar que “esperar não é saber”, o autor sublinha que quem está consciente da realidade do país não pode aguardar de braços cruzados que as coisas mudem. A mudança e a revolução não serão entregues de bandeja para ninguém, é necessário agirem rapidamente (“quem sabe faz a hora, não espera acontecer”).

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão

Nesta estrofe, é denunciada a miséria em que os agricultores e camponeses viviam e a exploração a que estavam sujeitos ("fome nas grandes plantações"). Existe também uma forte crítica aos pacifistas que pretendiam resolver a crise política com diplomacia e comum acordo, organizados em "indecisos cordões".

Os ideais de "paz e a amor" promovidos pelo movimento da contracultura hippie, o flower power, são simbolizados pelas flores (o "mais forte refrão"). É sublinhada a sua insuficiência contra o "canhão" (a força e a violência da polícia militar).

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão

Embora as forças militares simbolizassem o inimigo, o poder ditatorial, a música não desumaniza os soldados. Pelo contrário, lembra que estavam “quase todos perdidos de armas na mão”, ou seja, usavam da violência, matavam, mas nem eles mesmos sabiam porquê. Apenas obedeciam ordens cegamente, por causa da lavagem cerebral que sofriam: a "antiga lição / De morrer pela pátria e viver sem razão".

Os soldados, levados por um espírito de falso patriotismo, tinham que dedicar suas vidas e muitas vezes morrer em função do sistema que protegiam e do qual eram também vítimas.

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição

Na última estrofe, é reforçada a mensagem de igualdade entre todos os cidadãos e a urgência de partirem juntos para a luta, porque só através do movimento organizado poderia chegar a revolução.
A música lembrava que deviam avançar com os "amores na mente", pensando nas pessoas que amavam e foram vítimas da repressão militar. Para serem vitoriosos, era necessário deixarem "as flores no chão", ou seja, abandonarem as abordagens pacifistas.
Estava nas suas mãos "a história", a possibilidade de mudar a realidade do país e o futuro para todos os brasileiros . Deveriam continuar "caminhando e cantando" e "aprendendo e ensinando uma nova lição", transmitindo o seu conhecimento, despertando outras pessoas para a militância.
Significado da música
"Pra não dizer que não falei das flores" é um convite à resistência política radical, um chamamento para todas as formas de luta necessárias para derrubar a ditadura.
Geraldo Vandré fala de flores para tentar mostrar que não é suficiente usar "paz e amor" para combater armas e canhões, sublinhando que a única forma de vencerem era a união e o movimento organizado.
Contexto histórico
1968: repressão e resistência
Em 1968, o Brasil enfrentava um dos piores momentos de repressão política, a instituição do AI-5: um conjunto de leis que conferiam poderes quase ilimitados ao regime.
Face ao autoritarismo e diversos episódios de violência policial, os estudantes universitários começaram a se mobilizar, fazendo protestos públicos que eram recebidos com agressões, mandatos de prisão e, por vezes, assassinatos.
Aos poucos, esses protestos foram se espalhando pelo país e outros grupos se juntaram ao movimento: os artistas, os jornalistas, os padres, os advogados, as mães, etc.
Censura

Apesar da censura que ameaçava, proibia e perseguia, a música se tornou um dos veículos artísticos usados para transmitir mensagens de cariz político e social.
Os interpretes estavam conscientes do perigo que corriam quando divulgavam publicamente as suas opiniões, mas arriscavam sua vida para desafiar o poder instituído e passar uma mensagem de força e coragem para os brasileiros.
Muitos anos depois do Festival Internacional da Canção de 1968, um dos jurados confessou numa entrevista que "Pra não dizer que não falei das flores" teria sido o tema vencedor. Vandré ficou em segundo lugar devido às pressões políticas que a organização do evento e a TV Globo, rede que emitia o programa, sofreram.
Geraldo Vandré: exílio e afastamento da vida pública

As consequências possíveis para quem desafiava o poder militar eram a prisão, a morte ou, para quem conseguia escapar, o exílio.
Por causa de "Pra não dizer que não falei das flores", Geraldo Vandré começou a ser vigiado pelo Departamento de Ordem Política e Social e teve que fugir.
Viajou por vários países como Chile, Argélia, Alemanha, Grécia, Áustria, Bulgária e França. Quando regressou ao Brasil, em 1975, preferiu se afastar das luzes da ribalta e se dedicar à carreira de advogado.
Sua canção e a mensagem política que ela transmitia, no entanto, entraram para a história da música e da resistência política brasileira.