Neofascismo X neoliberalismo. Você é mais Bozo ou Mandetta?, por Armando
Coelho Neto
O Estado mínimo neoliberal é reduzido a nada quando
o assunto é necessidade básica do povo. Mas para socorrer bancos, há Estado
máximo.
Por - ARMANDO COELHO - 13/04/2020
Neofascismo
X neoliberalismo. Você é mais Bozo ou Mandetta?
por
Armando Rodrigues Coelho Neto
A pandemia neofascista antecede à pandemia da
Covid-19. No Brasil, os sintomas mais graves surgiram nas tais jornadas de
junho/2013 e em capítulos que antecedem o golpe de 2016, muitos descritos neste
espaço. Não é o momento de reorganizar esses capítulos, mas traçar linhas entre
o neofascismo e o neoliberalismo (*).
O neofascismo pode ser, grosso modo, definido como
o movimento de forças retrógradas que busca o retrocesso civilizatório, que se
aglutina e se expressa, hoje, por mecanismos digitais mediante engenharia de
redes sociais. O neofascismo está associado ao neoliberalismo, pois ambos
pregam o Estado mínimo.
No Brasil, o neofascismo chegou ao poder via
demagogia penal (Sérgio Moro que o diga), principalmente usando a suposta luta contra
a corrupção, em conluio com o Congresso Nacional e a mídia, na qual a TV Globo
(que hoje esperneia) exerceu deplorável papel. Além disso, teve maciço apoio do
poder econômico, que graças ao coronavírus, pode hoje minimizar o fracasso de
Paulo Guedes e do Palhaço-mor do Brasil. Graças à pandemia, a derrocada do
pensamento militar que ronda a assessoria do Palácio do Planalto sequer é
notada.
Uma vez instalados no comando da Nação, os
neofascistas passaram a hostilizar parcela de antigos apoiadores, trabalham
intensamente por uma sociedade dividida (pobres contra pobres). Bozo não mede
esforços quando antagoniza com governos estaduais (não apenas da Região
Nordeste, mais pobre, mas também os conservadores governos das regiões Sudeste,
Sul e Centro-Oeste). Agride o Parlamento, a Suprema Corte e insulta a imprensa,
em especial a Globo.
Aparentemente, o neofascismo seria a antítese do
liberalismo, mas não se observa nenhuma atitude de franca contraposição de
parte dos “conservadores obsoletos” (que no cenário político brasileiro são
misturados com a esquerda e rotulados de “velha política”, “comunistas”,
“esquerdopatas”, “petezada”).
Apesar de o neofascismo expressar-se hoje
simultaneamente em diversas partes do mundo, tendo inclusive chegado ao poder
nos EUA, Brasil, Hungria, Ucrânia e Itália, não existe uma reação ampla,
coordenada, decidida contra o fenômeno. O neofascismo no contexto atual da luta
de classes tem o papel de chantagear as instituições.
O capitalismo rentista está no centro desse debate.
Ele já não se sente mais obrigado a quaisquer concessões ao bem-estar coletivo,
nem consegue mais conviver com a Democracia. Aqui, o neofascismo cumpre papel
necessário à elite. Dudu Bananinha se posiciona claramente contra a taxação das
grandes fortunas. O posto Ipiranga do pai dele sorri para os financistas. Nas
medidas emergenciais contra a pandemia, houve resposta rápida para os bancos,
inclusive com a compra de papéis podres. Nenhum dinheiro para empresas e
lentidão no que ajudaria a grande massa, diz o economista Eduardo Moreira.
Atos do gênero mostram que o papel do neofascismo é
vergastar, destruir a espinha dorsal das democracias liberais, mediante
permanente ameaça fascista. Nesse sentido, o jipe, o cabo e o soldado não foram
e não são simples retóricas vazias. Não foram exagero ou incontinência verbal
de Dudu Bananinha. Foi um recado simples, objetivo e ameaçador, com o qual as
instituições convivem, seja por conivência, covardia ou coação. Aqui ali
observam-se lampejos higienizantes para dar ares de democracia, normalidade, de
que as instituições estão funcionando.
Sob conivência, covardia ou omissão, está clara a
prostituição das instituições, a submissão ao interesse financeiro, que aliás,
não começou com o fenômeno mais recente do neofascismo como alternativa
política séria. Mas sem dúvida, ela se intensifica diante da chantagem
fascista. Esta a razão pela qual já não se pode contar com o “mercado” ou mesmo
com seus tradicionais porta-vozes políticos – na política, na “juristocracia”
ou na mídia tradicional – neles inclusos golpistas travestidos de liberais e os
isentões de meia tigela.
O neofascismo tem se colocado como oposição ao
neoliberalismo e empurra a sociedade para a defesa de um pretenso “mal menor”.
Entre os danos colaterais da chantagem neofascista, já assimilados ao
cotidiano, está a infantilização do debate público.
Nesse ponto, conservadores obsoletos, como FHC,
rebaixam o debate público à dicotomia: Estado mínimo x Estado máximo, sem
considerar uma série fatores inerentes a países em desenvolvimento. Nessa
trilha, o Estado mínimo neoliberal de FHC é reduzido a Estado nenhum, sobretudo
quando o assunto é necessidade básica do povo. Mas, para socorrer bancos,
proteger grandes fortunas há Estado máximo. Eis a síntese do neoliberalismo de
FHC, como oposição ao neofascismo bolsopata.
O neofascismo bolsopata vai além. É ausente no
social e máximo no campo penal e na guerra. Quer a completa extinção dos
direitos sociais e da alteridade comportamental e persegue a homogeneização da
sociedade – seja pelo controle religioso, seja pelo condicionamento ideológico,
perseguições ao desenvolvimento científico. É contra a livre difusão do
conhecimento e da informação.
Em meio à pandemia, a popularidade do Bozo
permanece em alta por que a sociedade está dividida entre Bozo e Mandetta
(ambos Governo). Entre os que defendem a cloroquina e os “contra” ela (mesmo
não sendo). Entre os que acreditam na doença e os que não creem. Entre
salvadores da economia e salvadores de vidas. Tudo fruto de manipulações,
ideologizações, cruzadas evangélicas e chantagens, por meio das quais a
extrema-direita (neofascista) promove a total aniquilação do debate público. As
pautas do noticiário são idiossincrasias de um ministro, as postagens abjetas
de um político extremista, a fake news da semana ou o “roubou-ou-não-roubou”.
Por fim, ouve-se e lê-se muito, por aí, que a
pandemia pôs em xeque o mundo capitalista. Bem, sim e não. A realidade
pós-COVID-19 será evidentemente mais amarga e menos próspera. Mas é preciso
conter o otimismo ingênuo. Versalhes também já se havia desnudado em sua
insensibilidade e distanciamento das demandas populares quando Maria Antonieta
mandou os plebeus comerem brioches, já que não havia pães. E, no entanto, a
Bastilha não caiu: foi derrubada!
Se quisermos verdadeiramente derrotar o
neofascismo, será importante lutar com todas as forças contra o capitalismo
rentista e suas instrumentalidades políticas. Pois ao mandar o povo brasileiro
para a morte em protestos contra o isolamento social, a extrema-direita deu
outro recado: somos úteis ao Capital Financeiro e não desistiremos
espontaneamente desse projeto de barbárie e morte.
Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista,
delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São
Paulo.
(*) Texto produzido com um colaborador anônimo.
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