sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
Enredo da Mangueira - Entrevista a Leonardo Boff
Divulgando...
Enredo da Mangueira – Entrevista
a Leonardo Boff
O enredo da Escola de Samba
da Mangueira: os ultra-conservadores representam os que tramaram a condenação
de Jesus
Ultra-conservadores de hoje
representam os que tramaram a condenação de Jesus, diz Leonardo Boff sobre
ataques à Mangueira
Entrevista a Romolo Tesi
24 de janeiro de 2020 – UOL
24 de janeiro de 2020
Teólogo Leonardo Boff
Em mais um pré-Carnaval
agitado, a Mangueira vem sendo alvo de ataques na internet por conta do enredo
de 2020, sobre Jesus Cristo – “A verdade vos fará livre”. A ideia, saída da
cabeça do carnavalesco Leandro Vieira, da volta de Jesus pelo Morro da Mangueira,
próximo dos pobres e de minorias perseguidas, representado de diferentes formas
– mulher, negro, índio e outros – incomodou segmentos cristãos mais
conservadores. Até ameaça de ação na Justiça a escola já sofreu.
Para comentar o enredo, e
toda repercussão, o Setor 1 ouviu o teólogo Leonardo Boff, um dos expoentes da
Teologia da Libertação, que compartilha com a Mangueira de 2020 a visão de um
Jesus Cristo mais humano – menos o Jesus Glorioso, mais o amigo e defensor dos
pobres.
“Essa dimensão de Jesus foi
especialmente enfatizada pela Teologia da Libertação, que tem nos oprimidos e
nos crucificados na história seu ponto de partida e de ação. Ela quer, como
Jesus, libertar toda esta gente. Essa é a mensagem clara do enredo da
Mangueira”, declara o teólogo, que critica a reação mais extremista ao trabalho
de Vieira: “os ultra-conservadores de hoje representam os que tramaram a
liquidação de Jesus”.
“A Mangueira, com seu enredo
e sua arte, fez uma pregação melhor do que qualquer uma, de padre, de bispo ou
de cardeal”, afirma.
Veja a entrevista na
íntegra:
O carnavalesco da Mangueira,
Leandro Vieira, escreveu um enredo em que imagina a volta de Jesus Cristo ao
mundo atual, mas renascendo na Mangueira, filho de pais pobres e vítima das
mesmas mazelas que os favelados sofrem atualmente, mas sendo apresentado ao
Carnaval como algo libertador em relação ao sofrimento. O que acha dessa forma
de ver a figura de Jesus Cristo? Pela sinopse, é possível ver quais pontos de
conexão com a Teologia da Libertação?
R: Uma vez que o Filho de
Deus se fez homem e se encarnou, nunca mais abandonou a humanidade. Ele
continua sempre vindo e fazendo-se presente na história, principalmente no
pobre, no negro, no índio, na mulher marginalizada, nos homoafetivos, no menino
e menina de rua. Sua paixão dolorosa continua até o fim dos tempos. Enquanto
houver irmãos e irmãs dele sendo oprimidos e novamente crucificados, lá está
ele sofrendo e sendo crucificado junto com eles. Isso é doutrina tradicional da
Igreja. Não há erro nenhum naquilo que a Mangueira afirma. A questão é que a
maioria dos cristãos esquece essa verdade. Vive uma fé só cultural e não de
convicção. Então o samba da Mangueira expressa concreta e belamente esta
venerável tradição. A Estação Primeira é a Nazaré de hoje. Jesus foi pobre bem
concretizado hoje pelo “rosto negro, pelo sangue índio, pelo corpo de mulher
marginalizada, “pelo moleque pelintra do Buraco Quente… é o Jesus da Gente”.
Maria foi uma mulher simples do povo e assistiu com profunda dor de mãe à
crucificação do Filho. Por isso ela encarna bem a “Mãe das Dores-Brasil”, pois
milhões de brasileiros e de brasileiras estão sendo crucificados pela expulsão
de suas casas, de suas terras, pela fome e pelas doenças. Essa dimensão de
Jesus foi especialmente enfatizada pela Teologia da Libertação que tem nos
oprimidos e nos crucificados na história seu ponto de partida e de ação. Ela
quer como Jesus libertar toda esta gente. Essa é a mensagem clara do enredo da
Mangueira. Quem não entender isso, perdeu a atualidade da mensagem da
Mangueira.
A Mangueira tem sido alvo de
ataques da extrema-direita e de certos segmentos cristãos depois do anúncio do
enredo sobre Jesus Cristo. O instituto conservador Plinio Corrêa de Oliveira
organizou um abaixo-assinado e estuda um ação na Justiça contra a escola de
samba. O que acha dessa postura? Como se defender de ataques como esse?
R: Não devemos esquecer que
Jesus não morreu porque caiu um caibro grosso na cabeça dele, já que era como o
pai também carpinteiro, nem foi atropelado e morto por um camelo pesadão. Ele
foi perseguido, caluniado e condenado à morte de cruz pelos religiosos da
época, os sacerdotes, os doutores da lei, pelos piedosos como os fariseus. Os
seguidores ultra-conservadores do citado por você, Plínio Corrêa de Oliveira
representam hoje todos estes que tramaram a liquidação de Jesus. Condenando o
enredo da Mangueira eles repetem a condenação de Jesus. A Mangueira está do
lado de Jesus. Os ultra-conservadores de hoje estão do lado de Caifás, de Anás,
de Judas e daqueles que gritavam:”Crucifica-o, crucifica-o”. Se houver algum
processo, que seja feito contra estes ultra-conservadores que desconhecem a
real fé cristã e por ofenderem a Jesus nos humilhados e ofendidos de nossa
história atual.
Mangueira 2020
Tanto a sinopse quanto o
samba da Mangueira dizem que Jesus são muitos. A sinopse tem o seguinte trecho:
“Na cruz, ele é homem e é também mulher. Ele é o corpo indígena nu que a igreja
viu tanto pecado e nenhuma humanidade. Ele é a ialorixá que professa a fé apedrejada
e vilipendiada. Ele é corpo franzino e sujo do menor que você teme no momento
em que ele lhe estende a mão nas calçadas. Na cruz, ele é também a pele preta
de cabelo crespo. Queiram ou não queiram, o corpo andrógino que te causa
estranheza, também é a extensão de seu corpo”. Essa forma de retratar Jesus tem
causado reações mais irritadas e causado polêmica. Por que isso acontece? E o
que acha dessa visão de Jesus, mais humano?
R: A sinopse é verdadeira,
pois Jesus são de fato muitos, isto é, todos os que tiveram e estão tendo o
mesmo destino de Jesus: os oprimidos pelos latifundiários, os explorados pelos
patrões, as mulheres violentadas, as crianças estupradas, os LGBT
discriminados. Todos estes atualizam a paixão de Jesus. Tem mais. Jesus como
homem representa toda a humanidade, masculina e feminina. A Igreja ensina que
Jesus assumiu tudo o que é humano. Se não tivesse assumido todo o humano, não
teria sido o salvador e libertador de todos. Em outras palavras: se não tivesse
assumido o lado feminino não teria redimido as mulheres que são mais da metade
da humanidade. Sabemos hoje que em cada pessoa há a dimensão masculina (o
animus) e simultaneamente a dimensão feminina (a anima). Todos sem exceção
possuem estes dois lados. Por que estas duas dimensões, masculina e feminina,
não estariam presentes também em Jesus? Lógico que estão, pois caso contrário,
não seria plenamente humano.
Historicamente, o
cristianismo e o Carnaval das escolas de samba sempre tiveram uma relação
turbulenta. Há casos famosos, como o Cristo mendigo da Beija-Flor, em 1989, que
desfilou coberto por força de ordem judicial. No entanto, nos últimos anos,
houve alguma aproximação da igreja católica, que prefere acompanhar o
desenvolvimento de enredos do que partir para o confronto. Como vê essa
mudança? Acha que o samba pode servir para aproximar Jesus das pessoas?
R: Há uma parte da Igreja
que prefere ver apenas o Jesus glorioso, o Rei do Universo, Jesus Deus que toca
o mundo pecador apenas com a fímbria de seu manto. Essa visão é reducionista.
Ele é Rei sim mas com coroa de espinhos e não de ouro e de joias, é Deus sim,
mas um Deus encarnado em nossa miséria, que tem fome e sede, que se alegra e
que chora pela morte de seu amigo Lázaro. A primeira visão é adulçorada e
contrária â história narrada pelos evangelhos. Estes mostram um Jesus homem
como nós que abraça as crianças, que se compadece dos doentes, que multiplica
pães e peixes para atender um povo faminto, um Jesus que é amigo de duas
mulheres queridas, Marta e Maria, que se irrita porque se fazem negócios dentro
do lugar sagrado, derruba as mesas com as moedas e toma o chicote e escorraça
esses vendilhões. Ele é plenamente humano em cada uma destas situações. Mas
principalmente foi aquele que a Mangueira bem canta que “enxuga o suor de quem
desce e sobre a ladeira, que vive um amor sem fronteiras, que se coloca na
fileira contra a opressão”. Esse é o Jesus verdadeiro, aquele que é solidário,
que suscita esperança “que brilha mais que a escuridão”. A Mangueira deixa uma
mensagem importantíssima que vale para o mundo atual, tirada do projeto de
Jesus: “Não tem futuro sem partilha”. A humanidade inteira está mal porque os
ricos não partilham. 1% possui a riqueza dos 99% seguintes. Só os pobres
partilham o pouco que têm. E dá uma indireta clara e bem merecida ao atual
governante:” Não há Messias de arma na mão”. O enredo termina com o que é mais
importante na fé cristã: O domingo da ressurreição. Diz isso poeticamente: “Num
domingo verde-e-rosa ressurgi pro cordão da liberdade”. Liberdade e amor são os
bens mais preciosos que temos. Para confirmar isso, Cristo ressuscitou. A
Mangueira, com seu enredo e sua arte, fez uma pregação melhor do que qualquer
uma, de padre, de bispo ou de cardeal. A Mangueira está na linha do Papa
Francisco que repete: Jesus veio para nos ensinar a viver, o amor, a
solidariedade, a esperança e o gesto de ternura.
Como o senhor pretende
acompanhar a Mangueira?
R: Dizem por ai que
gostariam que eu desfilasse na Escola da Mangueira. Seria uma espécie também de
homenagem à Teologia da Libertação, subjacente no enredo. Eu penso assim: cada
um deve conhecer o seu lugar. Acho que o lugar do teólogo, por mais que apoie
os pobres, o povo e reconheça o alto valor do enredo da Mangueira, não é no
desfile da escola mas, no máximo, na plateia no meio do povo, desfrutando da
beleza e aplaudindo. Assisti da plateia a muitos carnavais. Agora no tramontar
da vida e com alguns achaques, meu lugar é apoiar a Mangueira e felicitá-la por
esse belo, profundo e verdadeiro enredo, dentro do melhor da fé cristã, fé
radicalmente humana, fé libertadora.
Leonardo Boff
sábado, 25 de janeiro de 2020
Padre Gegê - Enredo da Mangueira
Divulgando...
“Sou padre há 25 anos (jubileu) na diocese do Rio de Janeiro, mestre em teologia sistemático-pastoral pela PUC-RJ e doutor em ciência da religião pela PUC-SP. Como religioso católico, acolho a notícia do samba enredo da Mangueiira para o carnaval de 2020 como uma provocação às igrejas cristãs amordaçadas neste momento dramático e trágico na história do Brasil. Provocar (“provocare”) é “chamar para a briga”, incitar, desafiar… Desse modo, o enredo da Mangueira de 2020 “A VERDADE VOS FARÁ LIVRES” pode constituir um desafio aos que se dizem cristãos!
Certa feita, num livro antigo de Leonardo Boff, conheci o termo “profecia externa”. Para o teólogo, a expressão se referia a possibilidade de a sociedade, de diversificada forma, exercer a profecia, isso é, falar em nome de Deus na defesa da vida. Dizendo de outro modo, pessoas e grupos, como, por exemplo, movimentos sociais, em princípio, não religiosos, podem, as vezes com mais coragem do que os que se dizem seguidores ou seguidoras de Jesus, viver e lutar por um mundo de amor, justiça, igualdade, democracia e paz.
Nesse horizonte, recebo o enredo da Mangueira como “profecia externa”. O último pleito eleitoral revelou setores cristãos (católicos e evangélicos) despudoradamente aliados à grupos políticos promotores da violência e da matança dos pobres e indefesos. De forma explícita e velada grupos cristãos se apresentaram como coniventes dos esquadrões da morte. E todos esses grupos tem hoje nas mãos o sangue dos Wajãpi e responderão no juízo final por suas vidas brutalmente ceifadas. Muitos cristãos, sobretudo da hierarquia religiosa, jamais seriam capazes de assassinar, mas isso não os impede de amolar a faca para que outros o façam.
Em resumo, a capacidade de o cristianismo ser aliado dos vitimizados da história foi mais uma vez, terrivelmente, posta em cheque. De que lado estão os cristãos: do lado das vítimas ou dos carrascos? A Bíblia está repleta da denúncia acerca de profetas que se venderam e se calaram diante das atrocidades da história . O próprio Jesus aventou a possibilidade de, em face do silenciamento dos profetas, as pedras se pronunciarem na defesa da vida (“as pedras gritarão”). Então, é na contramão da apresentação, por parte de muitos cristãos, de um Jesus Cristo “açucarado”, conivente e insensível ante a dor dos pobres e segregados de toda sorte (indígenas, negros, mulheres, gays, terreiros etc..), que a Estacão Primeira de Mangueira, a meu juízo, profeticamente, pode estar mais próxima do Jesus dos Evangelhos do que muitos que não tiram a Bíblia debaixo dos braços e sabem citar de cor quaisquer capítulos ou versículos. Terá a narrativa da Mangueira mais pertinência e relevância que a dos doutos (e quase sempre arrolhados e encastelados) biblistas?
A propósito, o termo “Evangelho” quer dizer notícia feliz, interessante, oportuna e significante… De certo, é razoável pensar que o que interessa às vítimas seja diametralmente oposto ao que interessa aos verdugos; a notícia oportuna a senzala não é a mesma desejada pela casa grande. Considerando que Jesus não é propriedade privada de nenhuma igreja e que o Espirito Santo é livre e, por isso, fala onde quer e como quer, é possível pensar num Deus falando na Sapucaí, infelizmente, as vezes de forma mais potente do que nas igrejas.
Ler o Evangelho é também um ato político, uma interpretação que nasce de um “lugar de fala”, nos termos de Djamila Ribeiro. E não existe leitura – inclusive, bíblica – neutra! Praza Deus, o discurso da Mangueira, como diz Conceição Evaristo, consiga, na potência evangélica do samba, acordar a casa grande de seus sonos injustos! A Verdade que liberta o oprimido, ao mesmo tempo, desnuda e denuncia as mentiras do opressor!
Desejo, pois, que as igrejas cristãs se convertam do olhar colonialista , preconceituoso e racista para com o carnaval e tantas outras expressões culturais e religiosas afro-brasileiras. É hora de passarmos de uma política vincadamente policialesca para uma política do diálogo e da troca positiva. Ademais, o samba também evangeliza, inclusive aos que se dizem cristãos! Se as “pedras” podem profetizar, por que o samba não pode? Vale repetir: o Espírito Santo é livre e sopra onde quer! As vezes fala onde menos se espera… Deus é desconcertante! Da minha parte, como pesquisador das religiosidades das populações subalternizadas, estou, pessoal e visceralmente, ansioso e esperançoso para ver/ouvir a exegese bíblica do Samba, a versão, a hermenêutica decolonial de Leandro Vieira – o Evangelho de Jesus segundo a Estacão Primeira de Mangueira!”
–
*Padre Geraldo Natalino – mestre em teologia e doutor em ciência da religião – é conhecido popularmente no Complexo de Manguinhos como Padre “Gegê”.
“Sou padre há 25 anos (jubileu) na diocese do Rio de Janeiro, mestre em teologia sistemático-pastoral pela PUC-RJ e doutor em ciência da religião pela PUC-SP. Como religioso católico, acolho a notícia do samba enredo da Mangueiira para o carnaval de 2020 como uma provocação às igrejas cristãs amordaçadas neste momento dramático e trágico na história do Brasil. Provocar (“provocare”) é “chamar para a briga”, incitar, desafiar… Desse modo, o enredo da Mangueira de 2020 “A VERDADE VOS FARÁ LIVRES” pode constituir um desafio aos que se dizem cristãos!
Certa feita, num livro antigo de Leonardo Boff, conheci o termo “profecia externa”. Para o teólogo, a expressão se referia a possibilidade de a sociedade, de diversificada forma, exercer a profecia, isso é, falar em nome de Deus na defesa da vida. Dizendo de outro modo, pessoas e grupos, como, por exemplo, movimentos sociais, em princípio, não religiosos, podem, as vezes com mais coragem do que os que se dizem seguidores ou seguidoras de Jesus, viver e lutar por um mundo de amor, justiça, igualdade, democracia e paz.
Nesse horizonte, recebo o enredo da Mangueira como “profecia externa”. O último pleito eleitoral revelou setores cristãos (católicos e evangélicos) despudoradamente aliados à grupos políticos promotores da violência e da matança dos pobres e indefesos. De forma explícita e velada grupos cristãos se apresentaram como coniventes dos esquadrões da morte. E todos esses grupos tem hoje nas mãos o sangue dos Wajãpi e responderão no juízo final por suas vidas brutalmente ceifadas. Muitos cristãos, sobretudo da hierarquia religiosa, jamais seriam capazes de assassinar, mas isso não os impede de amolar a faca para que outros o façam.
Em resumo, a capacidade de o cristianismo ser aliado dos vitimizados da história foi mais uma vez, terrivelmente, posta em cheque. De que lado estão os cristãos: do lado das vítimas ou dos carrascos? A Bíblia está repleta da denúncia acerca de profetas que se venderam e se calaram diante das atrocidades da história . O próprio Jesus aventou a possibilidade de, em face do silenciamento dos profetas, as pedras se pronunciarem na defesa da vida (“as pedras gritarão”). Então, é na contramão da apresentação, por parte de muitos cristãos, de um Jesus Cristo “açucarado”, conivente e insensível ante a dor dos pobres e segregados de toda sorte (indígenas, negros, mulheres, gays, terreiros etc..), que a Estacão Primeira de Mangueira, a meu juízo, profeticamente, pode estar mais próxima do Jesus dos Evangelhos do que muitos que não tiram a Bíblia debaixo dos braços e sabem citar de cor quaisquer capítulos ou versículos. Terá a narrativa da Mangueira mais pertinência e relevância que a dos doutos (e quase sempre arrolhados e encastelados) biblistas?
A propósito, o termo “Evangelho” quer dizer notícia feliz, interessante, oportuna e significante… De certo, é razoável pensar que o que interessa às vítimas seja diametralmente oposto ao que interessa aos verdugos; a notícia oportuna a senzala não é a mesma desejada pela casa grande. Considerando que Jesus não é propriedade privada de nenhuma igreja e que o Espirito Santo é livre e, por isso, fala onde quer e como quer, é possível pensar num Deus falando na Sapucaí, infelizmente, as vezes de forma mais potente do que nas igrejas.
Ler o Evangelho é também um ato político, uma interpretação que nasce de um “lugar de fala”, nos termos de Djamila Ribeiro. E não existe leitura – inclusive, bíblica – neutra! Praza Deus, o discurso da Mangueira, como diz Conceição Evaristo, consiga, na potência evangélica do samba, acordar a casa grande de seus sonos injustos! A Verdade que liberta o oprimido, ao mesmo tempo, desnuda e denuncia as mentiras do opressor!
Desejo, pois, que as igrejas cristãs se convertam do olhar colonialista , preconceituoso e racista para com o carnaval e tantas outras expressões culturais e religiosas afro-brasileiras. É hora de passarmos de uma política vincadamente policialesca para uma política do diálogo e da troca positiva. Ademais, o samba também evangeliza, inclusive aos que se dizem cristãos! Se as “pedras” podem profetizar, por que o samba não pode? Vale repetir: o Espírito Santo é livre e sopra onde quer! As vezes fala onde menos se espera… Deus é desconcertante! Da minha parte, como pesquisador das religiosidades das populações subalternizadas, estou, pessoal e visceralmente, ansioso e esperançoso para ver/ouvir a exegese bíblica do Samba, a versão, a hermenêutica decolonial de Leandro Vieira – o Evangelho de Jesus segundo a Estacão Primeira de Mangueira!”
–
*Padre Geraldo Natalino – mestre em teologia e doutor em ciência da religião – é conhecido popularmente no Complexo de Manguinhos como Padre “Gegê”.
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
terça-feira, 14 de janeiro de 2020
Leonardo Boff: ''Os 80 anos de Fidel: confidências''
Divulgando de vermelho.org
Leonardo Boff: ''Os 80 anos de Fidel: confidências''
Confira o artigo do teólogo Leonardo Boff, a
respeito dos 80 anos de vida de Fidel Castro, chefe de Estado em Cuba. O texto
foi extraído da Revista Fórum.
Publicado 09/08/2006 20:22
Os 80 anos de Fidel: confidências
Por Leonardo Boff*
O que vou publicar aqui vai irritar ou escandalizar
os que não gostam de Cuba ou de Fidel Castro. Não me importo com isso. Se não
vês o brilho da estrela na noite escura, a culpa não é da estrela, mas de ti
mesmo. Em 1985 o então Card. Joseph Ratzinger me submeteu, por causa do livro
''Igreja: carisma e poder'', a um ''silêncio obsequioso''. Acolhi a sentença,
deixando de dar aulas, de escrever e de falar publicamente. Meses após fui
surpreendido com um convite do Comandante Fidel Castro, pedindo-me passar 15
dias com ele na Ilha, durante o tempo de suas férias. Aceitei imediatamente,
pois via a oportunidade de retomar diálogos críticos que, junto com Frei Betto,
havíamos entabulado anteriormente e por várias vezes.
Demandei a Cuba. Apresentei-me ao Comandante. Ele
imediatamente, à minha frente, telefonou para o Núncio Apostólico com o qual
mantinha relações cordiais e disse: ''Eminência, aqui está o Fray Boff; ele
será meu hóspede por 15 dias; como sou disciplinado, não permitirei que fale
com ninguém nem dê entrevistas, pois assim observará o que o Vaticano quer
dele: o silêncio obsequioso. Eu vou zelar por essa observância''. Pois assim
aconteceu.
Durante 15 dias, seja de carro, seja de avião, seja
de barco me mostrou toda a Ilha. Simultaneamente durante a viagem, corria a
conversa, na maior liberdade, sobre mil assuntos de política, de religião, de
ciência, de marxismo, de revolução e também críticas sobre o déficit de democracia.
As noites eram dedicadas a um longo jantar seguido
de conversas sérias que iam pela madrugada adentro, às vezes até às 6.00 da
manhã. Então se levantava, se estirava um pouco e dizia: ''Agora vou nadar uns
40 minutos e depois vou trabalhar''. Eu ia anotar os conteúdos e depois, sonso,
dormia.
Alguns pontos daquele convívio me parecem
relevantes. Primeiro, a pessoa de Fidel. Ela é maior que a Ilha. Seu marxismo é
antes ético que político: como fazer justiça aos pobres? Em seguida, seu bom
conhecimento da teologia da libertação. Lera uma montanha de livros, todos
anotados, com listas de termos e de dúvidas que tirava a limpo comigo. Cheguei
a dizer: ''se o Card. Ratzinger entendesse metade do que o Sr. entende de
teologia da libertação, bem diferente seria meu destino pessoal e o futuro
desta teologia''. Foi nesse contexto que confessou: ''Mais e mais estou
convencido de que nenhuma revolução latino-americana será verdadeira, popular e
triunfante se não incorporar o elemento religioso''. Talvez por causa desta
convicção que praticamente nos obrigou a mim e ao Frei Betto a darmos
sucessivos cursos de religião e de cristianismo a todo o segundo escalão do
Governo e, em alguns momentos, com todos os ministros presentes. Esses
verdadeiros cursos foram decisivos para o Governo chegar a um diálogo e a uma
certa ''reconciliação'' com a Igreja Católica e demais religiões em Cuba. Por
fim uma confissão sua: ''Fui interno dos jesuítas por vários anos; eles me
deram disciplina mas não me ensinaram a pensar. Na prisão, lendo Marx, aprendi
a pensar. Por causa da pressão norte-americana tive que me aproximar da União
Soviética. Mas se tivesse na época uma teologia da libertação, eu seguramente a
teria abraçado e aplicado em Cuba.'' E arrematou: ''Se um dia eu voltar à fé da
infância, será pelas mãos de Fray Betto e de Fray Boff que retornarei''.
Chegamos a momentos de tanta sintonia que só faltava rezarmos juntos o
Pai-Nosso.
Eu havia escrito 4 grossos cadernos sobre nossos
diálogos. Assaltaram meu carro no Rio e levaram tudo. O livro imaginado jamais
poderá ser escrito. Mas guardo a memória de uma experiência inigualável de um
chefe de Estado preocupado com a dignidade e o futuro dos pobres.
* Leonardo Boff é teólogo e autor de Virtudes
para um outro mundo possível (três tomos) pela Vozes de Petrópolis.
Bento XVI demonstra que os conservadores não se convertem nem têm jeito. Nem como papa se salvam!
Divulgando de cartasprofeticas.org
Bento XVI demonstra que os conservadores não se convertem nem têm jeito.
Nem como papa se salvam!
de 13 de janeiro de 2020
Por Dom Orvandil
Joseph
Ratzinger, que virou o Papa Bento XVI graças a uma articulação dos reacionários
da igreja católica romana em aliança com os interesses dos Estados Unidos,
antes assumidos pelo polaco que se fez papa e santo, o anti progressista, anti
popular, anti ecumênico e anti socialista João Paulo II, chegou a ser um
teólogo de fôlego e bastante ativo no Concílio Vaticano II.
Tanto
foi sério e progressista que o teólogo brasileiro Leonardo Boff conto com ele
como seu orientador da tese de doutorado na Alemanha e dele recebeu recursos
para a publicação de um livro.
Mais
tarde Ratzinger guinou para a direita tornando-se carrasco de Boff, abusando de
seu cargo com prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, substituta do
terrível e assassino tribunal chamado de Santa Inquisição, obrigando-o a ser
interrogado sentado no mesmo banco no qual foi condenado o cientista Gelileu
Galilei. Graças aos abusos inquisitoriais, forçou o sábio brasileiro a
silenciar por um ano, sem direito a celebrar, pregar, lecionar, escrever e a
ministrar aulas.
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Triste,
Leonardo Boff foi convidado pelo Presidente de Cuba e comandante Fidel Castro,
que o hospedou na casa dele.
Fidel
conviveu profundamente com nosso teólogo, orgulho do povo brasileiro. Leitor
assíduo da teologia da libertação, Castro aproveitou para tirar todas as
dúvidas sobre a teologia que nasceu e amadureceu nas lutas contra a opressão e
as injustiças gritantes na América Latina.
O
impacto dessa convivência foi tão profundo que Fidel confessou a Leonardo que
se tivesse conhecido a TL teria feito a revolução com base em seus métodos e
conhecimento da realidade, segundo contou Boff em testemunho comovido escrito
por ele. Acrescentou o comandante, que aprendeu a descobrir o cristianismo
verdadeiro e não este de Bento XVI ou das igrejas de mercado: ”Mais e mais
estou convencido de que nenhuma revolução latino-americana será verdadeira,
popular e triunfante se não incorporar o elemento religioso”.
Quanto
a desconversão de Bento XVI, que foi papa medíocre, formal e congelado na
relação com o povo, depois que se foi para a direita espúria, fortaleza dos
poderosos e inimigos da justiça social, o fez um solitário covarde, que
preferiu a fuga em forma de renúncia ao enfrentamento de um mundo que entra em
caos graças ao destroçamento causado pelo capitalismo, que se derrete podre
enquanto, como monstro em decomposição, cai sobre os povos.
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Na
miséria moral da direita, lugar de apodrecimento da fé, da inteligência e do
amor ao próximo, Joseph Ratzinger se desumanizou e se empobreceu ética e
intelectualmente. Isso também ocupou a conversa do Frei Boff com Fidel: ”se o
Card. Ratzinger entendesse metade do que o Sr. entende de teologia da
libertação, bem diferente seria meu destino pessoal e o futuro desta teologia”,
disse Leonardo a Castro (leia aqui).
Agora,
como que emergindo de um túmulo putrefato, Bento XVI ressurge fumegando falta
de ética e de cinzas bolorentas do conservadorismo setorizado em parte do clero
do Vaticano para atacar o Papa Francisco, legítimo e cristão, verdadeiro
profeta na defesa dos pobres e do planeta, ameaçados ambos de extinção pelo
capitalismo amado pelos conservadores que têm Bento como papa, embora covarde
tenha renunciado.
Ratzinger
ataca de que forma e o que?
Agride
exatamente a possibilidade de os povos amazônicos contarem com homens casados
ordenados sacerdotes. Em nome de argumento sem base coletiva e dogmática,
ignorando que São Pedro se casou, Bento procurar dividir a Igreja Católica
Romana, tentando puxá-la para trás e para as trevas justo quando ela busca os
caminhos do amor, dos pobres e das vocações de homens que contam com o mais
profundo do humano, a convivência íntima com famílias.
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De
posse de um dualismo desumano, que ele envelhecido e sem a vivência de homem
casado, nada sabe, separando sacerdócio e amor, principalmente na relação com
povos indígenas, ribeirinhos, das selvas, das matas e da águas, tão abandonados
e sem orientação pastoral.
Mas,
sem dúvidas, a barbaridade afirmada pelo fujão Bento ao dizer que “não me
parece que seja possível exercer as duas vocações (o sacerdócio e o casamento)
ao mesmo tempo” tem muito mais de conservadorismo de direita contra a Amazônia
do que qualquer interesse pelo celibato, que não existe o tempo todo na vida da
Igreja de Roma.
Enfim,
Joseph Ratzinger, permitindo ser usado, sem respeito ao Papa Francisco, por setores
ultra reacionários de mãos dadas com o imperialismo, com possíveis dedos de
Bolsonaro, ensina que progressistas quando se bandeiam para a direita nunca
mais se convertem nem retornam aos bons caminhos.
Como
desviado, Bento mostra o quanto essa gente que se junta com a direita se torna
feia e sem ética.
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Para
a direita os trânsfugas como Bento levam o que aprenderam na busca esforçada
das construções teóricas e metodológicas para entregá-las aos inimigos do bem e
da justiça.
Aqui
no Brasil muitos como Bento se entregaram aos estupros da direita e causaram
danos irreversíveis ao povo e à história. Ex progressistas, socialistas e
revolucionários transtornaram de tal modo que arrastaram pessoas às prisões, às
torturas e à morte. Carlos Frederico Lacerda foi um dos maiores exemplos desse
alto nível de indecência ética.
Bento
XVI cheira mal e aparece mal ao mundo na tentativa de destruir o Papa Francisco
e puxar a fé de volta para a Idade Média e para o inferno!
Leia também:
Como cadela adestrada do mercado e da matilha golpista o Estadão passa mãos delicadas em Bolsonaro;
Apesar das bombas, guerras e destruições terroristas dos USA a vida resiste e avança.
- O nosso Cartas Proféticas conta porque
precisa urgente de sua forte solidariedade. Ajude-nos: http://cartasprofeticas.org/colabore
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2020
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