UMA CARTA DE UMA MÃE
COMUNISTA
Queridos:
Amanhã vou precisar de toda
a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas
que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por
isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar,
filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a
estreitar-te em meus braços...
Carlos, querido, amado meu:
terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo
se não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E
queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto... E estou tão
agradecida à vida, por ela haver me dado a ambos.
Mas o que eu gostaria era de
poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será
possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
Querida Anita, Meu querido
marido, meu garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça pois
parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão
terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês
agora, para não ter que fazê-lo nas últimas e difíceis horas.
Depois desta noite, quero
viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto
significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas.
Lutei pelo justo, pelo bom e
pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último
instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem:
preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe
frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas
coisas...Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora
vou dormir para ser mais forte amanhã.
Beijos pela última vez.
Olga Benário Prestes
(Carta escrita nas vésperas
de sua execução numa câmara de gás em um campo de concentração)
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