Divulgando...
Carta do médico de Brasília sobre o aposentado Clementino que levou um tiro da polícia dia 24 de abril na manifestação Fora, temer!
Clementino finalmente foi dado de alta hoje, sábado. Depois de 10 dias internado, ontem a noite foi submetido a um procedimento cirúrgico. Partiu, com um olho a menos, acompanhado de sua humilde esposa, sacola de plástico na mão, chinelo de dedo, a pé, em direção ao metrô.
Fará uma escala na Ceilândia, na casa de um familiar, até conseguir pegar o ônibus para Goianésia, a mais de 200 km de Brasília.
Ontem levei-lhe duas camisas, porque já não tinha roupas limpas.
O Estado?
A Defensoria Pública?
A OAB?
A Secretaria de Direitos Humanos?
Os moralistas?
Nunca apareceram! Alguém da polícia para ao menos pedir-lhe desculpas? Quem vai devolver-lhe esse olho?
Quem vai arcar com os prejuízos materiais, físicos, psicológicos e morais desse cidadão, cujo único crime foi vir a Brasília manifestar-se por seus direitos?
Chorei ao sair do hospital: pela hipocrisia, a ignorância e a desumanidade do cidadão médio brasileiro.
Não se trata de ideologias, de partidos políticos, mas de respeitar a condição humana, a dignidade. Sinto aquela impotência que rasga a carne. A esperança se esvai.
Só me resta uma certeza: são esses heróis anônimos que fazem a História, enquanto vocês ficam sentados no sofá assistindo televisão chamando-os de baderneiros.
Relato do médico Daniel Sabino
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